domingo, 25 de setembro de 2011

108.

Dentro e fora do avião o que reinava era o silêncio. O silêncio tomava os quadrados das quadras quadradas de Brasília. O silêncio tomava mesmo os lugares não que funcionassem enquanto quadrados em Brasília. O silêncio era de espera. A espera era de silêncio.
SILÊNCIO...
Algo aconteceu. Não sei nem dizer o que foi. Só sei que em um soprar leve gotas caíram do céu. E o frenesi foi total. Crianças sorriam nas casas e nas ruas. Adultos sorriam nas ruas e nas casas. Luzes já apagadas tornavam a ascender. Gritos se junto misturavam-se e todos corriam para ver ela. Só ela. Somente ela.


CHUVA

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O tempo

Onde o tempo imprime o tempo?
Me perguntou a mocinha parada na rua
- No amarelada do papel !
respondi quase sem tempo de lhe dizer que o tempo lhe tomava o rosto em fração de segundo.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

No mundo sem sonhos, novembro de 2016.

No mundo sem sonhos, novembro de 2016.

Aceso o cigarro queima lentamente, o barulho da maquina de escrever que antes era muito intenso, agora da lugar a um silencio mórbido. A cortina de fumaça se desfaz rapidamente com o giro das pás do ventilador. O som opaco do silencio, barulheia ao som do nada, sendo até perceptível a combustão do tabaco.

Há senhor sentado no canto da cama.

Ele se esconde de algo muito triste. Se esconde dele mesmo. Se esconde do silencio.

A luz ameaça falhar, o breu momentâneo é o suficiente para um rápido trago. A falta de luz pareceu abafar o som. A cabeça levanta em direção ao nada e o olhar perdido incomoda a visão. A luz reascende.
Há barulho de passos lá fora. Pode ser o vizinho, pensa ele sem pestanejar. Apruma o corpo como quem não acreditara em sua própria assertiva. Insiste em levantar, mas o sono já não deixa. Percebe o esforço que havia cometido em vão.

Se rasteja pela cama. Até o provável ponto de sua preferência. Fecha os  olhos e parece não mas se importar.

Acreditou que era o vizinho....Mais cinco minutos e podemos entrar.
Buscar para nós o que é de direito. Buscar o que nos fora injetado. Buscar a cura do que nos assolou. Buscar o que se come frio. Buscar a tão esperada e tão almejada vingança.


...


A tempos atrás nos inícios de 2011, quando se pensava no fim do mundo em 2012, acreditávamos que poderíamos salvar o mundo. Mudanças de hábitos, convivência entre os povos, distribuição de renda, outros mundos possíveis, economia solidaria, softwear livre nos eram planejados em perfeita sintonia.

Acreditávamos nas mudança de base, alguns por atrelamento de classes e outro até pelo anarquismo. Mudanças eram sonhadas, planos traçados, melhores mundos construídos...

Mais naquela tarde de sexta algo mudou...

A massa critica pedalava pela rua, punks, universitários, famílias estavam ali. Tatuados ou não, com cabelos curtos ou bagunçados, todos ali pedalavam para a construção de um sonho, todos ainda tinham alguma esperança.

Todos ainda sonhavam.

O bancário Ricardo José Neis acelerou. Ele era o representante daquilo tudo contra o que lutávamos e acelerou. 


Corpos espalhado pelo chão. Ferro retorcido. Sangue.  Revolta. Perseguição. Divulgação. Tristeza. Agonia. DOR.

Só choro restou.







Campanhas foram feitas. Bicicletas tomaram timidamente as ruas. O jornal seguiu o caso como forma de fazer dinheiro. Artistas e famosos apoiaram a campanha. O miojo midiático ferveu como nuca na historia jornalística dos últimos 15 minutos. 

Mais naquela época um dia já era muito tempo...

O vervilhão cessou aos poucos, Esfriou como o miojo que repousa sobre a bancada. Ele esfriou.

Não Desistimos. Tentamos requentalo diversas vezes, mandavam noticias que circulavam cada vez menos nas caixas postais do gmail, fizemos passeatas de um, dois, três anos do maldito aniversário do incidente.




Hoje o Jornal Nacional lançou os depoimentos do monstrorista, bem como uma testemunha dizendo que estava no carro de trás do mesmo, e que também teriam agredido seu carro. Como era de se esperar, o Jornal Nacional decepciona.    
   
Esse é o típico “monstrorista” jargão usado entre os ciclistas para classificar o motorista que usa o seu carro deliberadamente com o uma arma.

Impunidade!!!







O miojo esfriou;

O bancário se apresentou poucas vezes ao júri. Com uma leve multa simbólica e alguns trocados achou que tudo havia passado.

Voltou a trafegar pelas ruas despercebido.

E em pouco mais de 3 anos estava com a ficha limpa e sua vida burocrática de volta.


...


Mais nós não esquecemos.
Como esquecer?

...


Entramos no quarto todos de capuz, como em um faroeste respirávamos ofegantes, passar pela segurança daquele prédio não foi fácil, subornamos mais de três pessoas que a essa hora já não se orgulham do que fizeram.

Subimos a escada e observamos.
entravamos no quarto de capuz.

Brad lhe tapou a boca com um travesseiro e com uma forte pressão não deixou nem um ruído escapar. Víamos o maldito ser se debater enquanto preparávamos as ferramentas.

Ernesto acendeu o charuto e queimava centímetro a centímetro da barriga de Ricardo. Olga buscou água gelada para lhe acordar entre um desmaio e outro, enquanto brincava de dar choques em seu falo. Zapata escrevia poesias com seu canivete, e fazia a pele dele como papel.

O  sangue jorrava como água, e a essa altura o motorista havia parado de se debater. Brad substitui o 
travesseiro por uma simples silver tape, pois também queria brincar, com um maçarico queimava a ponta dos dedos do motorista em um sadismo muito nobre.

Filmamos tudo, pretendíamos um dia usar aquele video, quem sabe até faze-lo passara em rede nacional, quem sabe.

Mais ainda faltava o castigo final.

Levamos o motorista arrastado pela escada,  o rastro de sangue coloria os degraus brancos do prédio. A cabeça fazia um som agudo quando repicava no chão, mas descíamos lentamente pois pretendíamos guardá-lo lúcido para o gran final.

O posicionamos no meio da avenida movimentada, e a pulos de bicicleta amassamos seus miolos no chão de asfalto.

Havíamos lavado ali o sangue que o maldito bancário derramou.

E daqui pra frente é assim... Olho por olho, dente por dente.

a nossa justiça agora é essa....








      

sábado, 29 de janeiro de 2011

Aconselho a leitura do texto "O pão e a revolução" de Ferrez antes da leitura desse texto, mas se estiver sem tempo é nóis. linkhttp://ferrez.blogspot.com/2007/02/o-po-e-revoluo-ferrz.html

A aposentadoria de um flanelinha ou a Revolução.



...
Ei chefe certinho?
Pode vim, pode vim! 
Agora,DESFAZ, desfaz!
Fortalece ai doutor hoje eu ainda num almocei.
...

Nem a janela o filho da puta abriu... Deve ser mais um desses carros blindados que cada vez mais atrapalham nosso emprego.
A vida ta Foda...

A 10 anos atrás vigiar carro pra mim tava no auge, tirava quase um salário na rua, e conseguia levar dinheiro pra casa sem problema, juntando com um pouco que meu pai ainda tirava, agente até conseguia comer mistura duas vezes por semana.   
E agora?
Meu pai logo depois que eu comecei a vigiar largo o oficio, pra ele já num tava mais dando, enquanto eu com quase 10 anos tirava quase 30 reais  ele num tava tirando nem 10 conto.
Vida de flanela não é fácil, as vezes até parece que nosso oficio funciona em uma lógica inversa a de todos os outros trabalhos da sociedade. Quanto mais envelhecemos menos ganhamos, nada de ser promovido ou férias remuneradas, quanto mais barba no rosto e pele mal tratada de sol, menos as quantias ofertadas caem em nossas mãos.
Até sei que temos uma espécie de aposentadoria, pois quando ficamos velhos a dó de quem tem carro se iguala para eles como se fossem crianças, mais não quero esperar ter cabelos brancos para poder voltar a vigiar e ganhar os mesmos valores que ganhava quando comecei.


Eu agora já tenho 20, a barba na cara não da mais para esconder, e a mulecada que vigia carro aqui perto até ri quando uma patricinha qualquer arranca em velocidade quando eu me movimento para cobrá-la pelo serviço.
To tirando 15 reais por dia, e em alguns meses creio que vou chegar no mesmo limite que meu pai chegou, mais o mesmo fim que ele levou eu não quero. Ele começou a assaltar logo depois que ser flanela parou de ser viável, ele tinha família e filhos para criar, e em 3 anos juntou dinheiro para mudar de vida, mais não teve tempo para isso em um assalto mal sucedido foi pego, antes de planejar os dias na cadeia recebeu um tiro na nuca daqueles malditos policiais.
Penso em fazer um curso, sei lá, terminar o fundamental quem sabe, mas assim íamos sobreviver de que? Se é o dinheiro de flanela que sustenta minha casa.



Junto minhas coisas e resolvo sair, preciso pensar no que fazer, com pouco mais de 30 centavos no bolso, do um alô nos outros flanelinhas  e digo que o ponto ta livre por hoje, mas amanhã eu volto... Quem sabe...
Não tirei nem o do buzão, então caminho a pé em direção ao meu barraco. Atravesso quase toda cidade sem muita pressa no andar.
Os ponteiros quase já esbarravam no numero nove e o frio da noite me fez lembrar do vazio de minha barriga que não via nada desde o mesmo horário do dia anterior.
Quase no meio caminho resolvi tentar arrumar algo para comer, sabia que em casa não conseguiria mais que uma lata de sardinha, passei por uns três bares, e neles só se encontravam prostitutas e velhos aposentados que não me dariam mais do que o dedo do meio endurecido como resposta.
Passei ao lado de uma faculdade onde o pulsar revolucionário e o sentimento de retribuição social poderia me ajudar. Avistei dois rapazes, estavam sentados com uma coca-cola extremamente gelada em sua companhia.




 O cheiro da coca me fez lembrar dos tempos áureos em que como flanelinha havia conseguido muitos restos de comida vigiando carro na frente dos restaurantes, pois o meu semblante jovem e sofrido tocava até os mais malvados capitalistas.
Me aproximei lentamente, inventei uma dor na perna como um trunfo de piedade, pedi com um olhar resiguinado um pingado com pão a esses dois jovens, já esperava um não como resposta mas não poderia deixar de tentar.
Um dos playboys me perguntou com que eu queria meu pão, e por um breve momento achei que tinha vencido a batalha e poderia voltar a vigiar os carros fingindo ser coxo ou alejado, pois esses também são fatos que tocam os mais ricos.
Mais a pergunta foi retórica, sem escutar minha resposta o playboy veio com um discurso pronto que me deu o plano perfeito para aquele momento da minha vida.

Os jovens falavam de revolução, falavam que eu deveria estudar e estar pronto para as oportunidades que me aparecessem, falaram varias outras coisas que eu nem escutei, pois depois da primeira frase só me concentrava no plano.
Enquanto discursavam persiste em meu plano, respondia algumas vezes que só queria um pingado com pão enquanto me aproximava da mesa deles.
Alcancei a mesa e rapidamente me dirigi ao balcão.
O dono do bar entreviu em minha defesa e em um ato de bondade me ofereceu a comida, enquanto discutia com os dois pseudo intelectuais me serviu o pingado e logo trouxe o pão.
 Antes de pensar em sorrir pelo plano, tomei o pingado e segui com o pão já meio carcomido, agradeci o dono e quando me deslocava para rua balancei levemente a cabeça para os dois jovens revolucionários.
Sai do bar sem escutar o resto da conversa que parecia ter algo a ver com pesca ou peixe ou esmola quem sabe, algo que muito se escutou na época da implementação do fome zero ou do bolsa família.
As vozes gradualmente foram se esvaindo, a cada segundo se tornando mais baixas, e quando o silencio caótico de uma cidade retomou seu lugar consegui perceber, o plano foi cumprido.
Agora caminhava a passos largos para minha casa com muito mais do que a barriga cheia de um pingado com pão, caminhava para minha casa com muito mais do que uma idéia de revolução impregnada em minha cabeça, caminhava ali sim, com a barriga cheia de revolução, e essa foi a vantagem.
Saia de lá com a carteira e o celular dos dois jovens estudantes revolucionários com quem cruzei no bar, tenho certeza que pra eles não fará falta, pois a revolução é assim, quem tem MUITO deve ceder, nem que seja forçado a isso.
Tenho certeza que não se importaram, pois na carteira de um deles encontrei um bilhete que me legitimava, e nele tava escrito.

“Toda revolução é impossível até que se torne inevitável”.

Na boca da favela vendi os dois celulares, e agora tinha dinheiro para pensar no que fazer quando acordar amanhã.
Esperar o inevitável? Acho que não.